quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Peru: Willkawain

Sítios Arqueológicos e Ruínas Pré Incas
Parque Nacional Huascarán / Cordillera Blanca / Peru

Salve Montanheiros!

Hoje vamos falar um pouco sobre como é a trilha até os Sítios Arqueológicos de Willkawain, que estão localizados nos arredores de Huaraz e possuem Ruínas de uma civilização Pré Inca, os Huari!

Ruínas Pré Incas do Sítio Arqueológico Willkawain
O Sítio Arqueológico de Willkawain fica a aproximadamente 8 km de Huaraz e para se chegar nele é necessário fazer uma trilha leve, muitas vezes realizada para aclimatação na região. As Ruínas estão a uma altitude aproximada de 3.400 m e estão do lado direto do Callejón de Hyalas (tendo o norte como parâmetro), aos pés da Cordillera Blanca.


Localização das Ruínas em relação à Huaraz
A trilha começa a Nordeste de Huaraz, sendo possível acessá-la pelos bairros periféricos da região. Abel (o guia) e eu saímos pela manhã (por volta das 8h) e começamos a caminhar desde o Hotel San Sebastian (excelente, por sinal) onde eu estava hospedado. As ruas asfaltadas dão lugar a ruas de terra batida que se estendem até as montanhas e se transformam em belas trilhas de pedra, com plantações de trigo por todos os lados e um visual maravilhoso da Cordillera Negra como pano de fundo.

Paisagem típica das trilhas até Willkawain. Ao fundo, a Cordillera Negra descansa silenciosa no horizonte
Vez ou outra cruzávamos uma plantação e Abel sempre apanhava algo entre o plantio para mascar. Segundo ele, era comum para os povos Andinos sempre mascar algo (preferencialmente Coca) enquanto estavam nas montanhas. A Coca possui atributos que combatem o mal da montanha, aliviando sintomas como a fadiga, dor de cabeça e enjoo. 

As subidas começaram e meu corpo começou a sentir um pouco a altitude. O clima estava muito agradável, com o céu aberto e um vento que soprava através do Callejón. Subiamos calmamente as colinas quando avistamos uma pessoa de costas subindo devagar a trilha, e com ela haviam algumas ovelhas. Quando passamos por ela, Abel desferiu um "Buenos Dias" (era absolutamente de praxe cumprimentar as pessoas, mesmo os desconhecidos) e imediatamente a pessoa se virou e nos cumprimentou. Era uma senhora, e sua aparência beirava os 90 anos. Certamente ela era mais nova, e a pele sofrera com o castigo do sol da alta montanha. Em seu rosto havia um sorriso largo, alegre, com uma felicidade incontestável, e ao mesmo tempo, sem nenhum dos dentes na boca.

Nessa hora eu me calei e engoli a seco. Estava testemunhando aos poucos a realidade dos povos Andinos, e começava a me questionar o real significado da felicidade por trás de um sorriso após vê-la nos cumprimentando daquele jeito.

A senhora caminhava devagar, com dificuldade, e escutamos a batida de coisas metálicas em um saco que ela carregava nas costas.

A velha senhora de sorriso feliz
Abel e eu a ultrapassamos sem dificuldades, apesar do meu fôlego ofegante. Subimos muito por um caminho um pouco íngreme (como se pode perceber pela foto acima). Meia hora depois da subida cruzamos um pequeno riacho, e então eu me dei conta que o barulho metálico vinha dos baldes que a senhora carregava para coletar água para uso pessoal e provavelmente da família. Ela faria o caminho de volta, devagar e com dificuldade, e provavelmente o faria todos os dias de sua vida. Nessa hora eu pensei no valor das coisas que nós temos, e consequentemente, no valor maior daquelas que não temos.

Vez ou outra cruzávamos terrenos das inúmeras casas de barro no pé das montanhas
Após algum tempo caminhando, a paisagem começou a mudar, e as casas de barro começaram a dar lugar à pedras que desenhavam caminhos tortuosos através da Cordilheira nos levando cada vez mais para dentro do universo Andino.

O caminho das pedras
Abel e eu, conversando sobre as sementes que ele mastigava

Mais algum tempo caminhando e finalmente chegamos às Ruínas de Ichic Willkawain!

Sim, existem dois sítios arqueológicos, e este era o menor deles. A entrada estava vazia, com algumas placas explicando sobre o local, e logo a frente (dentro das ruínas) havia um guarda vestido de preto. Abel começou a explicar que as ruínas fazem parte do que foi um dos centros administrativos da Cultura Huari, ou Wari, e que são preservadas por serem parte intrínseca da história da cultura peruana. Não demorei muito para ouvir a explicação e começar a tirar fotos.

Complexo Huari: Detalhe para o desenho de uma Lhama nas pedras (no centro e abaixo)
Cordillera Blanca vista das ruínas
Após visitarmos o sítio de Ichic Willkawain, fomos rumo ao principal sítio arqueológico, Willkawain. Caminhamos por mais uns 30 minutos até nos depararmos com uma imensa entrada a céu aberto, sendo possível ver as construções, que pareciam ser mais misteriosas do que as anteriores.


Construções rústicas contrastam com o céu limpo da região

Pausa para um descanso na sombra
Um pequeno riacho cruzava as ruínas silenciosamente
O tempo que fiquei nas ruínas pude observar que as construções abrigavam tumbas. Um dos guardas do local, Eli Efrahim, nos explicou que as tumbas eram distintas entre si. A menor era para uma pessoa menos importante na hierarquia Huari. A tumba média era para uma pessoa de status mais elevado, e a tumba maior era sem dúvida destinada àqueles com status mais importantes. Permaneci no local sozinho, explorando-o de forma calma e aproveitando para meditar e tentar entender todo o contexto daquelas ruínas.

Dica: Seja extremamente cortês com uma pessoa de outra cultura! Isto é muito importante para construir um relacionamento de amizade. Quando falei com Eli Efrahim, disse a ele que eu era Designer e ele comentou que seu filho gostava de desenhar. Imediatamente peguei uma folha em branco e um lápis de uma mesa e rabisquei uma rápida ilustração, assinei e coloquei o nome do filho dele, que agora não me recordo. Ele ficou todo agradecido, e a partir deste momento não saiu mais do meu lado, me levando inclusive para dentro das tumbas com sua lanterna para que eu tentasse uma foto melhor (na época eu ainda não tinha uma DSLR). Infelizmente algumas fotos não ficaram boas o suficiente para serem publicadas aqui, mas a cortesia fez toda a diferença.

Por último, antes de irmos embora, Abel e eu almoçamos nosso lanche de trilha de forma voraz. É sempre importante levar, mesmo que em trilhas leves, alimento suficiente para o dia todo. Abaixo vou listar o que cada um carregava dentro do seu saco de Picnic (como eles mesmos chamavam).

Lanche de Trilha
  • Um pão com carne, alface, cebola e tomate
  • Um suco de caixinha sabor laranja
  • Um frasco plástico de iogurte
  • Um chocolate pequeno
  • Uma barra de cereal
  • Uma banana
  • Um a maçã
  • Duas garrafas d'água (estas não faziam parte do lanche de trilha)

Depois de fazermos nossa refeição, acompanhados dos guardas de Willkawain, Abel e eu partimos, primeiramente pelo mesmo caminho que viemos, mas posteriormente pegando um atalho em direção ao oeste e, logo em seguida, nos adentrando para as trilhas que iam para o norte, e então descemos a encosta da Cordillera Blanca rumo a Monterrey, onde pegaríamos um transfer retornando a Huaraz.


Descida da trilha até Monterrey
Bom pessoal, isso é o que eu posso dizer sobre o fantástico dia que tivemos dentro destas ruínas!
É claro que o tour não ficou apenas com o sítio arqueológico, pois afinal de contas, olha a foto aí de cima. O visual era uma atração à parte!

Espero que tenham gostado desta matéria e curtido as fotos!

Até a próxima!


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Willkawain e Ichic Willkawain
Altitude: 3.400 m aprox.
Local: Parque Nacional Huascarán / Ancash / Peru
Categoria: Trekking / Hiking
Dificuldade: Moderada




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